Sunday, May 26, 2013

Aline

Tanto
(Aline Frazão)

É tanta luz aqui - Que até parece claridade
É tanto amigo aqui - Que até parece que é verdade
É tanta coisa aqui - Que até parece não há custo
É tanta regra aqui - Que até parece um jogo justo
É tanto tempo aqui - Que até parece não há pressa
É tanta pressa aqui - Que até parece não há tempo
É tanto excesso aqui - Que até parece não há falta
É tanto muro aqui - Que até parece que é seguro

Tanto, tanto, tanto
Na embriaguez do encanto
É tanto ‘tanto faz’
Que ninguém sabe quem fez
Mundo, gira, mundo
Mundo vagabundo
Não olhes, senão vês

É tanta pose aqui - Que até parece não há esquema
É tanta História aqui - Que até parece um problema
É tanto festa aqui - Que até parece sexta-feira
É tanta dança aqui - Que até parece a das cadeiras
Tanto flash aqui - Que até parece que ilumina
É tanta frase aqui - Que até parece que resolve
É tanto ecrã aqui - Que até parece um grande invento
É tanta força aqui - Que até parece um movimento.

É tanta coisa aqui - Que até parece não há custo
É tanta regra aqui - Que até parece um jogo justo
É tanto excesso aqui - Que até parece não há falta
É tanto dano aqui - Que até parece ninguém nota

Friday, May 24, 2013

A propósito do simples nome de uma serra

Mini-Estudo
A propósito do nome de uma serra e de um manuscrito do séc. XVIII

Originalmente escrito para 'Capeia Arraiana'


Serra d’ Opa ou do Pá?


Volto a um tema que me dá a volta ao miolo: afinal qual é o nome da nossa Serra? Serra Dopa, d’ Opa ou do Pá?
Isto hoje vem a propósito porque recentemente José Carlos Lages nos trouxe outra vez a dúvida, não por via dele mesmo, mas da Torre do Tombo. Portanto, ao defender a minha dama, estou a bater na Torre do Tombo e não no cronista JCL.
Vamos então a esse debate.


Hoje trago uma daquelas coisas mesmo chatas para quem não aprecia. Esses leitores, e com a sua razão, até vão achar que isto é só «para armar ao pingarelho», como se costuma dizer.
No entanto, apesar desse risco de parecer «snob», arrisco. Porque vale a pena discutir estas coisas, ao menos uma vez.

O que vem aqui à liça é o verdadeiro nome da serra que separa o Casteleiro do Vale da Senhora da Póvoa:
Serra Dopa, Serra d’ Opa ou Serra do Pá? 
Já todos vimos essas três fórmulas escritas.
E cada um defende a sua dama.
Hoje chegou a minha vez.

Tudo isto vem na sequência de duas presenças da Serra, há pouco tempo, na net: uma mais recente, no ‘Capeia’, pela mão de José Carlos Lages (ver aqui); outra pela mão de António Marques, no ‘Viver Casteleiro’ (ver aqui).
Estas duas peças versam exactamente o mesmo: as memórias paroquiais, os censos do tempo do Marquês, sobre cujo «percurso» (das respostas dos padres de todo o País) já disse o que penso num comentário à peça de JCL acima referida e linkada.

A caligrafia do Padre Leal

O escrito mais antigo que se pensa ter em português com o nome da Serra é o dos Censos de 1758, atrás referenciado.
Mas não sabemos se há textos latinos referentes à mesma Serra.
Talvez até haja. Penso que há.
Porque, ao que me parece, a Serra d’Opa teve muita importância no tempo dos romanos, como adiante pode ler.

Voltando ao padre Leal.
Em defesa do que penso, dei-me ao trabalho de assinalar a vermelho numa imagem e na linha em que me parece mais clara a escrita complicada (mesmo para a época) deste padre, o Cura Leal, do Casteleiro.
Assim, nessa linha está o seguinte:
«da Do pa» etc., da frase «Quazi no meio da Serra chamada do Pá, está a Ermida» etc.
Ver em baixo imagem 5. 

A adulteração feita em Lisboa

Cabe aqui, uma crítica aos escribas da Torre do Tombo: foram tão minuciosos nalgumas coisas (exemplo: o Padre escreveu «assima» com dois esses em vez de «acima» com c, e eles chaparam com isso no texto), mas aqui, onde o Padre pôs «Do pa», eles, por sua conta e risco, adulteraram tudo e escreveram «do Pá». Veja bem as diferenças: maiúsculas, minúsculas e acento…
Eu não entendo isto.
E por outro lado, eles, lá longe em Lisboa, imaginavam lá o que é que o Povo chamava à Serra e o que teria escrito o Padre…
Para perceber bem as voltas que este texto deu, leia o que escrevi comentário à peça de JCL acima referida e linkada (desculpem-me o uso dos estrangeirismos da informática – mas como me faria entender de outro modo?).

Não é masculino e falta o acento, senhores

Penso o seguinte, depois de muito olhar e comparar:
1º - O Cura Leal não põe acento no a do nome da Serra: não escreve pá mas pa;
2º - Na sua escrita (caligrafia) nada simples, o Cura escreve separado o que queria escrever junto parece estar lá Do pa, mas acho que ele queria escrever Dopa. Ou seja: ele queria escrever o que ouvia aos habitantes da terra: ouvia eles dizerem Dopa. Mas hoje sabemos que as serras têm por norma a preposição de: Serra dos Candeeiros, Serra da Estrela, Serra de Sintra… Portanto: Serra de Opa – Serra d’ Opa.

Note, leitor, que o Padre Leal escreve sempre o que parece serem duas palavras Do pa.. Mas então aos gulosos que já estão a dizer:
- Pois, é porque o nome da serra é Pá.
… a esses eu pergunto tão somente:
- Mas se para o Padre o nome da serra é Pá, por que é que escreve com minúscula essa palavra enquanto escreve com maiúscula o Do?
Ou seja: penso que para o Padre Leal o nome era mesmo Dopa.
Só que ele estava equivocado, julgo.
O Povo dizia assim, o som era esse de facto, mas a preposição «de» fazia a elisão com o nome da Serra: Opa. Dizia-se Dopa, mas devia escrever-se d’ Opa (de Opa), repito..

Estudo simples comparativo

Em suma:
1. O Cura não põe acento na palavra pa; 2. O Cura escreve pa com minúscula; 3. O Cura saberia apesar de tudo (à época, em geral os padres eram muito incultos, disso não há dúvida), mas saberia que Pá seria uma palavra feminina. E então seria Serra da Pá e não Serra do Pá…
Tudo isso, porque o nome do monte é Serra d’ Opa e não outro.

Quem tiver gosto, pode ver um estudo simples comparativo que deixo aí em baixo, com ampliações de cada uma das linhas em que o Cura Leal escreveu o nome da Serra nas respostas que deu ao Marquês. Ali encontrará assinalada a vermelho (ponto 5) a mesma linha referida neste texto – aquela em que o Cura escreveu de modo mais legível o nome da Serra, ou aquela em que os efeitos do tempo e maus tratos nos deixam ler melhor.

E os opidanos?

Mas há mais um argumento em defesa da minha tese:
Vamos imaginar que seria Serra do Pá.
Do, repito. Contracção da preposição de e do artigo definido o – lembram-se? Artigo definido esse que está no masculino.
Muito bem.
Então quem defende que a serra se chamava Serra do Pá venha a terreiro dizer-me qual é esse substantivo masculina Pá e o que significa.

Em reforço da minha tese, pergunto, mais uma vez, como já antes pude escrever:
- Não será que os opidanos (ou opidendeses) do tempo dos romanos e não será que o nome da localidade fortificada que era Lancia Opidana (Vale de Lobo, hoje Vale da Senhora da Póvoa), não será que essa designação latina era uma homenagem ao nome da serra mais importante a separar aqueles vales que se estendem de um lado (até Caria) e do outro (até à Meimoa)?

Sobre estes aspectos, já escrevi algumas peças fundamentadas. Uma delas pode ser lida aqui, por exemplo.





Estudo comparativo
Duas das páginas das respostas do Cura do Casteleiro ao Marquês de Pombal, sobre o tema «Serra».
Nestas páginas, o Padre escreve 5 vezes o nome desta serra.
A comparação das imagens permite algumas conclusões.


1
... em cujo lemite estão huma chamada a Serra do Pá, e outra a Serra da Preza.







2
Esta, chamada Serra do Pá, tem de comprimento duas legoas e de largura meia legoa; principia no lemite do Lugar da Moita...







3
Da Serra chamada do Pá, nasce hum pequeno Ribeiro; e a este chamam o Ribeiro de Val de Cazeloins...








4
A Serra chamada do Pá se cultiva com searas de centeio, de hum e outro lado a meia ladeira.








5
Quazi no meio da Serra chamada do Pá, está a Ermida de Sancta Anna,




:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Imagem e texto das duas página do manuscrito



Texto dessas páginas do manuscrito
Transposição da Torre do Tombo

SERRA
1 – O Lugar do Castelleiro está fundado em hum valle, como assima se declara, em cujo lemite estão huma chamada a Serra do Pá, e outra a Serra da Preza.
2 – Esta, chamada Serra do Pá, tem de comprimento duas legoas e de largura meia legoa; principia no lemite do Lugar da Moita, em o sitio da Cabeça Gorda, e acaba em o sitio que chamam Sam Dinis, no lemite do Lugar chamado Benquerença, distante deste povo duas legoas. E a Serra chamada da Preza terá de comprimento huma legoa e de largura quazi o mesmo; principia no lemite deste Lugar e acaba no lemite do Lugar chamado Escarigo, distante deste Lugar legoa e meia. Correm estas
Serras de Norte a Sul.
4 – Da Serra chamada do Pá, nasce hum pequeno Ribeiro; e a este chamam o Ribeiro de Val de Cazeloins, e logo se mete em huma Ribeira que corre ao pé do povo; e este Ribeiro da Serra do Pá corre do Nascente para o Poente. Da Serra chamada da Preza nasce outro pequeno Ribeiro chamado de Cantalegalho, e também se mete na mesma Ríbeira. Da Serra nasce outro pequeno Ribeiro, que passa ao pé da Quinta do Espirito
Santo, e Corre também para a mesma Ribeira; e este Ribeiro se mete nella aonde chamam o sitio Guaracoins, e aquelle no sitio chamado Tinte; e estes ambos correm do Poente para o Nascente, e tudo está no lemite deste Lugar.
8 – A Serra chamada do Pá se cultiva com searas de centeio, de hum e outro lado a meia ladeira. E a Serra chamada da Preza se cultiva com searas também de centeio em todo o cimo e em todos os lados della, e o mais nada.
9 – Quazi no meio da Serra chamada do Pá, está a Ermida de Sancta Anna, assima declarada, e somente os moradores do mesmo povo custumam hir em romagem algumas vezes.
10 – O temperamento destas duas Serras assima declaradas, he frio, mas saudavel.
11 – Cria-se nas taes duas Serras gado meudo, e caça, coelhos e perdizes.
12 – Nesta Serra chamada Preza, acha-se em todo o meio os aIicerces de huma grande preza, que ali houve antigamente, donde a
Serra tomou o nome de Serra da Preza; e agora desta Preza, se conta, a queriam em tempos antigos levar por canos aonde chamam a Torre dos Namorados, distante della quatro ou sinco legoas; e nesta mesma Serra, há huma Crux, quéchamam da Relva Velha, para a parte do Lugar chamado Escarigo, tem a Mitra duas partes em todos os fructos, e a Comenda huma.
13 – E da mesma Crux, para a parte do mesmo Lugar do Castelleiro, terá a Comenda duas partes, e a Mitra huma, em todos os fructos.


Transposição «modernizada» feita em 'Viver Casteleiro':



Serra
1-O Lugar do Casteleiro está fundado num vale como acima se declara, em cujo limite se acham uma chamada a Serra d’Opa e outra a Serra da Preza.
2-Esta chamada Serra d’Opa tem de comprimento quase duas léguas e de largura meia légua. Principia no limite do lugar da Moita no sítio da Cabeça Gorda e acaba num sítio que chamam Sam Dinis no limite do lugar chamado Benquerença, distante deste povo duas léguas. E a Serra chamada Serra da Preza terá de comprimento uma légua e de largura quase o mesmo. Principia no limite deste lugar e acaba no limite do lugar chamado Escarigo, distante deste lugar légua e meia. Correm ambas estas serras de norte a sul.
3-Nada
4-Da serra chamada d’Opa nasce um pequeno ribeiro e a este chamam o Ribeiro de Val de Casteloins e logo se mete numa ribeira que corre ao pé do povo e este ribeiro da serra d’Opa corre de nascente para o poente. Da serra chamada da Preza nasce outro pequeno ribeiro que passa ao pé da Quinta do Espírito Santo e corre também para a mesma ribeira. E este ribeiro se mete nela onde chamam o sítio Guaralhais e aquele no sítio chamado Tinte e estes ambos correm do poente para o nascente e tudo está no limite deste lugar.
5-Nada
6-Nada
7-Nada
8-A serra chamada d’Opa se cultiva com searas de centeio, de um e outro lado a meia ladeira e a serra chamada de Preza se cultiva com searas também de centeio em todo o ano e em todos os lados dela, e o mais nada.
9-Quase no meio da serra chama d’Opa está a Ermida da Sancta Anna, acima já declarada, e somente os moradores do mesmo povo costumam ir lá em romagem algumas vezes.
10-O temperamento destas duas serras acima declaradas é frio mas saudável.

11-Criam-se nestas duas serras gado miúdo e caça de coelhos e perdizes.


AS PERGUNTAS
Se quiser conhecer também o questionário enviado por Lisboa a todos os padres do País, aceda aqui.

AS RESPOSTAS
Se quiser conhecer as respostas de todas as Freguesias deste Concelho, na versão Torre do Tombo, aceda aqui.

Thursday, May 23, 2013

Estatística das Freguesias

Estatística das Freguesias
no 'Capeia'


6 Fev 2011

Cito aqui as mais e as menos, para que se possa pensar que quando criticamos o País porque a comunicação social vive siderada com Lisboa (muito) e Porto (menos), isso afinal se repete por muitos lados e também aqui.
Vejam só que as entradas relativas ao Sabugal (freguesia e vila, sede do Concelho) são 1170. Ou seja: mais, muitas mais do que as outras freguesias todas juntas. Repito: todas juntas.
O Soito, com 199, e Sortelha, com 133, são das mais citadas – e com razão, cada uma por seu motivo específico: o Soito por ser a maior fora a vila; Sortelha por ser aldeia histórica, suponho.
Aldeia da Ponto e Aldeia do Bispo, com perto de 100, estão bem «cobertas» pelo «Capeia Arraiana».
Na linha média, com à volta das 50 referências, andam a Rebolosa e o Casteleiro.
No fim da tabela, uma situação a rever, está Martim Pega, com apenas uma notícia; e pouco melhor andam terras como Peroficós e Amiais com 3 e a Abitureira, com 5.
Assim é a vida: aqui e no resto do País.


26 Dez 2011

Quando, há cerca de um ano, fui desafiado a escrever neste sítio, o Casteleiro tinha aqui apenas 50 referências em quatro anos. Hoje tem 100. Um crescimento de 100% num ano. Valeu a pena, pelo menos em termos de estatística: a ideia era pôr o Casteleiro neste mapa. Dos conteúdos, cada um falará. Note que no mesmo período as referências às seguintes terras cresceram como indico: Sabugal – 10%; Soito – 18%; Sortelha – 14%; Aldeia da Ponte – 10%; Aldeia do Bispo – 3%. Isto, para referir apenas as que registei na altura neste mesmo sítio.
Boas Festas para todos.




17 Set 2012

Já que o meu tema de hoje é este (notícias da terra), volto à estatística. Quantas referências registou o «Capeia Arraiana» para cada freguesia? O Casteleiro, com 50 referências há dois anos, tem hoje 150 e, no momento em que me está a ler, pelo menos 151 (+ 200%). Acho que foi o maior crescimento, o que só significa que estava abaixo da sua «performance» regional, creio.
E as outras?
Com menos de 10 registos – são ainda 9 aldeias, que merecem menção individual, para as compensar dos silêncios: Escabralhado, Espinhal, Abitureira, Batocas, Carvalhal, Lameiras de Cima, Martim Pêga, Peroficós, Vale Mourisco.
Com 10 a 20 – ainda são 8.
Entre 20 e 50 – 14, a maioria, nesta minha tabela.
50 a 100 – 7.
100 a 200 – 4: Aldeia da Ponte, Aldeia do Bispo, Casteleiro, Sortelha.
Mais de 200 – 2: Fóios (mais de 270), Soito e Sabugal (com mais de 1300, também por ser a sede do concelho, claro).
Registo que o Soito subiu 40%, de 199 para 270 – 71 em dois anos. E Sortelha subiu de 133 para 160 (um aumento de cerca de 25%). Acho que tem crescido pouco, mas tem muitas referências – neste caso, também, e ainda bem, por se tratar de uma aldeia histórica.


Dia 18 de Maio de 2013

Cast – 202
Sab - 1506
Soito - 289
Sortelha - 165
Foios - 308

Menos de 10 ref: 10 Freguesias
Várias com 1 e 2 referências, infelizmente.

10-20: 5 terras

50-100: 11 terras.

Saturday, May 04, 2013

Pimenta




I
O pequeno filho-da-puta
é sempre
um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho-da-puta.


no entanto, há
filhos-da-putaque nascem
grandesefilhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos,diz ainda
o pequeno filho-da-puta.


o pequeno
filho-da-puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho-da-puta.


no entanto,
o pequeno filho-da-puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho-da-puta.
todos os grandes
filhos-da-puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.


dentro do
pequeno filho-da-puta
estão em ideia
todos os grandes filhos-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

o pequeno filho-da-puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho-da-puta.

é o pequenofilho-da-puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
de resto,
o pequeno filho-da-puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho-da-puta:
o pequeno filho-da-puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho-da-puta.

II
o grande filho-da-puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho-da-puta,
e não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

no entanto,
há filhos-da-puta
que já nascem grandes
e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho-da-puta.

por isso
o grande filho-da-puta
tem orgulho em ser
o grande filho-da-puta.

todos
os pequenos filhos-da-puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.
dentro do
grande filho-da-puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.

tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos-da-puta,
diz
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho-da-puta.

é o grande filho-da-puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.
de resto,
o grande filho-da-puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho-da-puta:
o grande filho-da-puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho-da-puta.